“Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”, é sobre a procura de lugar, sobre o tempo a passar, sobre a comida e a conta do gás, sobre os filhos, o preço das fraldas e das propinas. É sobre o fim do mundo. É sobre os versos de John Lennon, “Life is what happens…”.
Quatro amigos portugueses, licenciados: numa mão um diploma, noutra, um passaporte. Estão à procura de emprego, a inventar profissões ou a trabalhar por conta própria. Empregos precários, sonhos provisórios, roupas usadas, computadores antigos, livros importados, música boa e malas aviadas. Estão com um pé aqui e outro lá. São massa cinzenta que se vai.
Uma escrita dramática que revela energia e atenção objetiva às problemáticas de carácter social, recorrendo a um discurso aparentemente cruel, refletido por uma leitura desencantada do estado do mundo e das gentes conduzidas para a infelicidade, sob os efeitos resultantes da crise do sistema capitalista. Apesar disso, o autor, perscruta sempre a possibilidade de continuar caminhando e antever uma hipótese de saída, uma esperança na inversão do sistema a partir de uma postura de resistência cívica ativa a favor da defesa da dignidade que é devida a todos sem exclusão.
“Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele” é um texto de grande atualidade e vigor comunicativo trazendo ao palco o debate que impõe uma sugestiva análise sobre prementes questões sociais, culturais e políticas. Desemprego, emigração, arte e resistência cívica, são temas que emergem de personagens que resistem apesar da “opressão sistémica que as instituições do poder exercem sobre os indivíduos”.