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A Força do Hábito

"A Força do Hábito"

Thomas Bernhard
Aforcadohabito1
Aforcadohabito2
Aforcadohabito3
Autor
Thomas Bernhard
Tradução
Alberto Pimenta
Encenação
Nuno Carinhas
Cenografia
Luís Mouro
Desenho de luz
Fernando Sena
Sonoplastia
Hâmbar de Sousa
Interpretação
Fernando Landeira, Roberto Jácome, Sílvia Morais, Susana Gouveia e Tiago Moreira
Apoio musical
Maria Gomes e Rogério Peixinho
Operação de luz e som
Hâmbar de Sousa
Confeção de figurinos
Sofia Craveiro
Carpintaria
Pedro Melfe
Produção
Celina Gonçalves
Fotografia
Ovelha Elétrica
Duração aprox.: 1 h 20 minutos
Classificação etária:
Para maiores de 12 anos

As criaturas vulgares

Se "A Força do Hábito" fosse um quadro de Magritte, teria inscrita a frase: "Isto não é um retrato de artistas". Artistas relutantes, diga-se. Exilados, ambulantes — o público no escuro é reconhecido pelo faro apurado de Garibaldi: em cada cidade, um cheiro diferente. Os artistas odeiam-se entre si, não se entendem, embora precisem uns dos outros, e por isso mesmo. Para tocar em conjunto, para continuarem vivos. Continuando a ensaiar o "Quinteto da Truta". A vida de todos os mortais precisa de narrativas construídas pelos artistas. E de que se alimentam os artistas para sua sobrevivência, para além do cheiro do público? Doutras artes, doutras práticas que lhes exigem persistência em busca da perfeição. A par dos afectos esquinados pelas ovelhas tresmalhadas da família e das memórias extremas. Dos momentos inesquecíveis, entre a ocasião sublime e o acidente fatal. Provas de vida a cada dia de ensaio, dentro e fora da "pista". Sentidos alerta: um passo em falso, e é a morte do artista. Não desistir do treino e do rigor: cabeças e corpos. Ferrara / fé rara. De terra em terra, de estação a estação, a viagem com esperança no infinitamente difícil, inatingível. Bento Domingues: "Na utopia, vive a esperança de uma outra sociedade; na esperança, vive a utopia de um outro mundo". Diz Garibaldi: "A sociedade escorraça de si quem a ameaça" (...) "Não resta senão", diz o mesmo Garibaldi, "entrar com o arco a tocar pela morte dentro" Entretanto não se fala de produção nem de consumo. Tão só da alma, igual à peça de madeira que une as costas à frente dos instrumentos de corda e que faz ressoar o som. "Toda a palavra é uma invocação", como no teatro! "A arte que se faz nunca mais deixa em paz a cabeça". Uma homenagem que Thomas Bernhard presta à gente do Teatro, do Circo e da Música, com verrina e ternura. Criaturas (in)vulgares em versão de câmara.

Nuno Carinhas Teatro das Beiras, Covilhã, outubro de 2020