*
*
Era uma vez ... ... Raul Real, ex-ministro do interior de um belo país imaginário, que depois de ter escapado a um atentado, a uma prisão e a um julgamento, decidiu tornar-se terrorista, por conta própria. Decisão perfeitamente natural, na sua lógica de ex-ministro de todas as polícias. Vamos encontrá-lo na solidão de um pico rochoso, cercado pelos seus antigos esbirros, - há quem lhes chame polícias - agora dirigidos por um seu antigo correligionário - vulgo camarada. O novo ministro vai naturalmente usar os métodos repressivos que o seu antecessor implementou - gosto desta palavra, muito usada por políticos, que estão sempre a implementar... Voltando à história, o nosso teórico pode vir a ser apanhado pelas suas próprias teorias. O que até é justo, convenhamos, embora raramente aconteça. Porém, um homem que decidiu tornar-se terrorista, não se entrega assim sem mais nem menos. A não ser que se arrependa. Ora, um antigo ministro do interior, não é um arrependido. Ele vai resistir, contra-atacar, furar o cerco e dar um pulo de lobo ao país real, para o pôr a ferro e fogo. Mas, enquanto isso não é possível, vai contar-nos como chegou ao poder, como aperfeiçoou o sistema repressivo que ainda está em vigor no país e, por fim, como foi atraiçoado por um camarada seu. O que é absolutamente natural em política. Sem querer, Raul Real, vai denunciando a ambição do poder, a hipocrisia, a crueldade, a bestialidade política. A sua linguagem é a das casernas. Grosseira, agressiva, vulgar, e poderá chocar os espíritos mais puritanos. Mas é essa linguagem precisa, clara, viva, a mais adequada à desmontagem da lógica absurda do poder. Felizmente que a repressão, a tortura, os cárceres, são coisas que só acontecem em países imaginários e mesmo assim longínquos... Pois!...
João Azevedo
Encenação e Dramaturgia: João Azevedo
Interpretação: João Azevedo, José Alexandre Barata, Tó Fonseca
Teo “El Constructor de Autómatas”, recorre una Europa en desbandada en busca de Ola, “Amor de una Noche” imposible de olvidar.
Interpretação: Emilio Goyanes e Rosa Díaz.
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
Dei várias explicações para o destino da Menina Júlia: Os profundos instintos de sua mãe; a educação errada que o pai lhe deu; a sua própria natureza e a poderosa sugestão que o noivo exerce sobre um cérebro fraco e degenerado; e depois, mais directamente: a atmosfera de festa na noite de S.João, a ausência do pai, as suas regras menstruais, o seu interesse pelos animais, a influência excitante da dança, a escuridão da noite, a influência erótica das flores, e enfim, o acaso que fecha os dois protagonistas num quarto isolado e a audácia do homem sobreexcitado. Não encarei o assunto apenas segundo as leis da fisiologia ou da psicologia; não acusei apenas a hereditariedade materna, como não me limitei a pregar moral. Satisfaz-me esta multiplicidade de motivos, porque o sinto de acordo com os nossos dias. Não encarei o assunto apenas segundo as leis da fisiologia ou da psicologia; não acusei apenas a hereditariedade materna, nem a menstruação, nem a imoralidade, como não me limitei a pregar moral.
in Prefácio de “A Menina Júlia” August Strindberg
Encenação: Rui Sena
Interpretação: Helena Faria, Miguel Telmo, Fátima Apolinário
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*