Adaptar Alçada Baptista para Teatro é muito fácil porque já lá está tudo. Por isso é que é tão difícil adaptar Alçada Baptista para teatro: como está lá tudo, é muito difícil de caber. Portanto é inevitável seleccionar. Nós fomos pelo lado do humor e da ternura, características tão importantes na obra dele. O Humor como forma de enfrentar a escrita e a vida. O humor, muitas vezes, só pelo prazer de um sorriso inteligente ou de uma gargalhada indefesa. O humor distanciado e as pequenas histórias para registar coisas tão complexas como a época que se vive e tão pequeninas como um gesto de carinho.
Autor: José Carretas
Encenação: José Carretas
Música: Blandino Soares
Cenografia: José Carretas e Nuno Sanches
Figurinos: Margarida Wellemkamp
Interpretação: Eva Fernandes, Flávio Hamilton, Sofia Bernardo, Sofia Valadas, Pedro Fiúza e Marco Telmo
Music-hall. Uma palavra que brilha como os projectores e as lantejoulas. Music-Hall. Uma palavra que canta como as cantoras sexy. Music-Hall. Uma palavra que sabe a martinis e gin-fizz. Music-Hall. Uma palavra que ilumina em letras vermelhas que fazem sonhar. Mas, se tudo desaparecesse, como “fazer como se nada se tivesse passado”? Music-hall.
Agarrada ao seu banco alto e às recordações do seu início, uma cantora de variedades conta a vida, a que levou, de noite em noite, num decrescendo lento, a ir imperceptivelmente passando dos verdadeiros cabarés às festas de aldeia onde um público grosseiro e cheio de cerveja sucede aos espectadores mais elegantes.
Nessa noite, mais uma vez, nesse lugar “que julga poder ser um music-hall”, lá estão, ela e os seus dois boys.
Tentando sobreviver no baldio dos arrabaldes cinzentos, as três personagens de Music-Hall agarram-se como podem a um mundo que os rejeita, na esperança vaga de encontrar um lugar, uma réstea de glória e um projector que os tire do anonimato.
Através desta metáfora terna e desesperada da precariedade do mundo do espectáculo, Jean-Luc Lagarce interroga-se sobre o sentido do destino humano e exprime todas as nossas esperanças e desencantos. Não estamos nós sempre confrontados, mesmo fora do palco, ao êxito e ao fracasso, à dúvida e à realidade?
Encenação: François Berreur
Interpretação: Américo Silva, António Simão e Pedro Carraca
Cenografia: José Manuel Reis
Figurinos: Margarida Wellemkamp
Interpretação: Eva Fernandes, Flávio Hamilton, Marco Telmo, Sofia Bernardo, Sofia Valadas e Pedro Fiúza
Durante uma acção de busca de um jovem, perdido algures numa montanha, dá-se um encontro entre um adulto e uma criança. Dois personagens, cada um de mundos distintos. Nem a Protecção Civil nem os Bombeiros se dão conta, mas na verdade, durante a busca, estes dois personagens viajam para além do real, percorrendo uma longa aventura, cheia de histórias e personagens fantásticos, que mais não são que parábolas do comportamento humano. Daí a possibilidade da descoberta, uma ideia de esperança alicerçada na amizade na solidariedade e no respeito mútuo nas diferença de cada um.
Encenação: Isabel Bilou
Interpretação: Luís Santiago, Sofia Bernardo, Sofia Valadas
Figurinos: Fábio Inglesa
Desenho de luzes: Fernando Sena
Uma história a penas é falar de aves, de sensualidade, de namoro e de ovos, falando de nós. Com as palavras de Luisa Dacosta, Maria Angelina e Raul Brandão cosemos e cozinhámos esta história: (Lá bem fundo na nossa memória colectiva está guardada, em pedacinhos, a noção de festa e de povo, de fartura e de pão, de fome e de prazer...) Era um pássaro e uma menina (e a memória dessa menina agora já menos menina)... Era o Russo e a Pisca, (ele um moço quase homem, ela uma outra menina), as andorinhas, adão e eva e a serpente, o boi, o cão e o gato, o galinheiro, o cuco, as aranhas, o mocho, as pedras, os penedos e o caracol... E um castigo... Russo de Má Pelo prepara-se para deitar abaixo o ninho das andorinhas. - É um pecado - diz a Pisca com os olhos a luzir e morta também por ver o ninho no chão. Uma cana deita os ninhos abaixo.
Ergue-se a velha e diz de repente transfigurada:
- Vais aprender a sofrer! Primeiro serás saltão. E depois, cada ano, as andorinhas dirão em que bicho te tornarás. Hás-de saber o que é a vida.
A Pisca intercede de mãos postas.
- Não! Ao menos deixe-me acompanhá-lo, para que tenha alguém ao pé de si...
Bem, quando for pedra no Marão, serás seixinho ao seu lado.
E uma caminhada...
Russo e Pisca partem, encontram-se e desencontram-se como num conto popular, são pedra juntos e aves, ele desespera, ela anima-o, até que reencontram a velha que lhe retira o feitiço.
Dramaturgia e encenação: Pompeu José
Cenografia: Zé Tavares e Marta Fernandes
Máscaras e bonecos: Luis Pacheco
Música: Teresa Ferreira
Letras: José Rui Martins
Figurinos: José Rosa
Interpretação: Raquel Costa, Ruy Malheiro e Sandra Santos
Desenho de luz: Luís Viegas
Corine, Ricardo e os seus filhos deixaram a cidade para viverem no campo. Esta mudança seria a solução para todos os seus problemas.
Quem é a mulher que Ricardo encontrou inanimada na berma da estrada? Porque é que ele a trouxe para a sua casa? Quem é que fala realmente verdade?
Somos confrontados com o neurótico e com o psicótico num enredo de 90 minutos onde: “as crianças não tem nome, um copo água sabe a nada, as malas se derramam, um par de sapatos pode transformar pessoas diante dos nossos olhos e onde as cadeiras de pedra devoram corações”.
Encenação: Rui Ramos
Cenografia: João Sofio
Luz: Mafalda Oliveira
Interpretação: Sónia Botelho, Marco Ferreira e Telma Saião
RE Apareceu D. Margarida” de Roberto Athayde é uma peça tragicómica que retrata o dia-a-dia de uma sala de aula da severa Professora D. Margarida, que se desloca numa trama de indagações onde é a própria a dar as respostas que os alunos deveriam responder.
D. Margarida transforma a plateia em alunos para discutir e criticar uma sociedade oprimida, metamorfoseando as disciplinas de Biologia, História e Matemática, em instrumentos de práticas terroristas.
A linguagem e as expressões irónicas usadas pela personagem, mostram claramente a nossa sociedade actual, com os seus encontros e desencontros, situações conflituosas e a opressão do regime totalitarista, evidenciando a busca de uma nova escola de formação mais humanista.
D. Margarida, na sua condição neurótica e solitária, amedronta, agride, faz-nos rir e leva-nos à condição de esqueleto, com um humor próprio de uma mulher, cujo verbo principal é a violência.
Encenação: Gabriel Villela
Interpretação: Júnio Sampaio
Participação: Hugo Sousa
Cenografia: Gabriel Villela
Desenho de luz: Tiago Catarino
Música: Tiago Catarino
El - Rei Tadinho é uma adaptação da obra de literatura infanto-juvenil de Alice Vieira, “Graças e Desgraças na Corte d’El-Rei Tadinho”, autora sobejamente (re)conhecida.
A escolha do texto demonstra a preocupação em abordar outros géneros literários, neles (re)descobrindo novas potencialidades e outras leituras diversificadas.
“[…] Diziam os grandes Livros de Leis do Reino das Cem Janelas que a crise, quando nascia, era para todos. Ou seja: se faltava comida na mesa do ferreiro, faltava também na mesa do juiz; se entrava água em casa do pedreiro, também entrava na do físico da corte.
Nem sequer o rei escapava à força da Lei e, por mais de uma vez, em Invernos rigorosos, Sua Majestade, El-Rei Tadinho, era visto a meio da noite agarrando em tudo o que era balde para pôr nos cantos do palácio onde chovia como na rua.[…]” Li o livro da Alice Vieira há muitos anos já, quando o meu filho, João Paulo, era miúdo… Sempre pensei levar a história ao palco, mas apareceram um e outro projectos pelo meio e, só agora, é chegado o momento de o testar.
Encenação: José Mascarenhas
Cenários e Figurinos: Sónia Tavares
Desenho de Luz: Armando Mafra
Desenho de Som: Hélio Pereira
O "Auto da Fama" funda-se em que uma mocinha das Beiras, chamada Fama Portuguesa anda guardando patos na companhia de um parvo chamado Joane, que logo se põe a dormir. Todos querem a Fama Portuguesa, a França, a Itália e Castela, todas representadas por um francês, um italiano e um castelhano. Todos cortejam a Fama Portuguesa e a querem levar consigo. Gil Vicente encontra aqui nos sotaques próprios dos países referidos, diálogos extremamente jocosos, repelindo-os sempre a Fama Portuguesa. Até que entram a Fé e a Fortaleza que vêm honrar a pastora de patos com uma coroa de louros e a entronizam como Princesa das famas com grande acompanhamento musical.
Encenação: José Russo e Mário Barradas
Música: Gil Salgueiro Nave
Cenografia e Figurinos: Joaquim Tavares
Interpretação: Figueira Cid, Isabel Bilou, José Russo, Maria Marrafa, Rui Nuno e Victor Zambujo
Histórias do medo relata-nos o quotidiano de Beatriz uma menina do nosso tempo confrontada com os medos próprios da sua idade, o escuro, os monstros dos sonhos e da TV, o medo da separação dos pais, o medo da escola, o medo de estar doente…
Um dia chega um novo vizinho, chama-se Ali, vem de outro continente de outra cultura. Também ele na sua fragilidade de criança é agora assaltado por muitos outros medos, uma nova língua para aprender, uma nova cultura para decifrar, a incompreensão a intolerância duma sociedade que não reconhece o direito à diferença.
Só a Beatriz reserva um espaço no seu coração para o novo vizinho/amigo. E quando Ali se vê obrigado a acompanhar os seus pais de regresso à sua terra distante fugindo da insensibilidade e do ódio de alguns outros vizinhos, Beatriz não compreende as razões da perca do seu amigo nem tão pouco a crueldade do mundo “civilizado” em que vive.
Encenação, cenografia e figurinos: Isabel Bilou
Iluminação e sonoplastia: Wladimiro Garrido
Interpretação: Margarida Cunha, Raquel Reis e Susana Russo
Serafina e Malacueca são duas mulheres que zingareando pela vida se descobrem a si próprias. Nos seus zingareios vão-se cruzando com os senhores e patrões do mundo, que as aliciam e manipulam, transformando-as em lacaias do poder. Mas estes zingareios levam-nas a tomar maior consciência do seu ser e querer, não se deixando subjugar e mantendo-se firmes na sua procura.
Encenação e Dramaturgia: Manuela Pedroso
Interpretação: Carla Alves, Luiz Oliveira, Manuela Paulo e Xico Alves
Cenografia e Figurinos: Luís Santos
Desenho de Luz: Manuela Pedroso
Operador de luz e som: Pedro Luciano
Trata-se de um espectáculo de Clown Cómico-Visual possivelmente inspirado nos filmes de Buster Keaton. Com uma curiosa sonoplastia ao vivo e uma mágica manipulação de objectos encerra em si uma linguagem universal capaz de atrair todo o tipo de públicos.
O espectáculo começa na manhã de um belo dia depois de uma grande noite de festa. O espaço está repleto dos restos festivos da noite anterior: serpentinas, confetis, pratos e copos de plástico, garrafas, chapelinhos de papel, restos de papel de embrulho e muitas outras coisas típicas de grandes farras!... Além de tudo isto há um indivíduo que se confunde com aqueles restos: é o baterista da banda que animou a dita festa e a sua Bateria-de-Latas-Loucas.
Este é o quadro encontrado pelos dois encarregados da limpeza do local.
Se vão limpar, varrer ou esfregar ninguém sabe, mas o palco vai brilhar! Não pelo detergente utilizado, mas pela forma divertida com que estas personagens vão resolver a situação com que inesperadamente se encontraram.
Criação colectiva: Ángel Fragua, Noelia Domínguez e Sérgio Agostinho
Iluminação: Peripécia e Paulo Neto
Figurinos: Noelia Domínguez e Oliveira Gonçalves
Dois amigos inseparáveis, trabalhadores temporários, têm muita dificuldade em arranjar emprego durante o período da Grande Depressão nos Estados Unidos, devido principalmente à deficiência mental de que sofre um deles.
Quando conseguem arranjar um trabalho numa quinta, dirigida despoticamente pelo filho do patrão, a sua amizade cimenta-se e estende-se a outros trabalhadores, vítimas de prepotência e, ambos podem finalmente sonhar com uma parcela de terra só para eles. Porém, a tragédia abate-se sobre a dupla, quando a bela e infeliz mulher do filho do patrão entra nas suas vidas. O Autor propõe-nos um olhar sobre a injustiça, o sonho de uma vida melhor e sobretudo sobre as pequenas coisas. Olhámos cada vez menos para o nosso lado, para o nosso amigo. Amizade, talvez
seja disso que a peça trata realmente.
Dramaturgia e encenação: Fernando Moreira
Música: Carlos Adolfo
Espaço Cénico: Ricardo Preto
Desenho de luz: Leuman Ordep
Interpretação: Valdemar Santos, João Paulo Brito, Pedro Carvalho,
Luís Araújo e Ângela B. Marques
Duas irmãs brigam constantemente.
Ambas querem o mesmo cesto.
Este cesto não é um cesto qualquer.
Este cesto abriga os livros preferidos de ambas.
Cada livro guarda entre as suas páginas os segredos das histórias.
Existe neste cesto um livro que despertou a curiosidade de ambas.
Uma história fundamental:
“Como o fogo chegou à mão do homem?”
Criação e interpretação: Inês Neiva e Déborah Benvenist
José Braima Galissa é um dos mais importantes músicos oriundos da Guiné-Bissau a residir actualmente em Portugal. Herdeiro de uma tradição familiar de tocadores de kora, ele é hoje um verdadeiro embaixador da musica da etnia mandinga. Este instrumento, o Kora é um cordofone conhecido como a harpa africana, já que possui um elevado número de cordas e é tocado de forma similar à harpa da cultura musical do ocidente. De som cristalino e num rendilhado harmónico, acompanha a voz nas celebrações rituais da cultura islâmica daquela região de Africa.
Galissa dirige um conjunto de músicos também eles oriundos da Guiné-Bissau, onde se misturam os sons da tradição e as novas tecnologias da musica electrónica que são hoje o painel de fundo sonoro das grandes cidades de Africa. Tradição e modernidade numa mistura rítmica e melódica que estimula o gesto e o movimento.
Kora e Voz: José Braima Galissa
Piano elétrico: Juca Delgado
Baixo: Nene Mateus
Bateria: Toni Bate
Djambé: Domingos Sá
Este espetáculo com características do café concerto é estruturado em "quadros" que retratam com o humor típico do autor, uma espécie de "non sense" seco e inteligente, situações e personagens do nosso quotidiano.
Encenação: Luís Beato
Música: Fernando Paussão e João Paulo Leitão
Interpretação: Alice Almeida, Fernando Paussão, Gabriel Varela, Horácio Brás, João Paulo Leitão, Maria da Luz, João do Russo, Luís Beato, Luís Rosa, Maria João Bragão, Vera Martins e João Pedro.
O reportório proposto pela “Anónima Nuvolari” afunda as suas raízes na música popular e consiste numa viagem através dos últimos 50 anos da canção italiana: tendo como ponto de partida o Maestro napolitano Renato Carasone, passa-se por referências como Fred Buscaglione ou Adriano Celentano, para chegar até autores contemporâneos entre os quais estão Paolo Conte e Vinicio Capossela, mantendo contudo uma continuidade artística baseada numa interpretação cheia de genuinidade e simpatia.
Músicos: Donatello Nuvolari, Michele Nuvolari, Sérgio Nuvolari, Gian Marco Nuvolari e Beniamino Nuvolari.
O Zé d'Almeida trocou a exuberância das Luzes e Lusitos pelos tons suaves e sublimes, "sustenidos" lhes chama ele do piano. Com esta abordagem dá uma pausa ao cartonista e deixa lugar ao artista que se comove com a beleza do piano e a quer partilhar. Há que distinguir, nesta abordagem ao piano, o tema da composição. O tema é uma sugestão antiga, provavelmente nascida das idas a Belgais, executar a virtuosidade de Maria João Pires e respirar o ar mágico que daquele local emana. Quem vê A Caminho de Belgais, lado a lado com Ouro Negro percebe que é a dádiva da pianista que o autor aqui elogia.
Merece atenção mais demorada a maneira que escolheu para exprimir essa admiração. Do tema passamos, assim, à composição. A primeira abordagem é visual e de duas tonalidades, uma marítima e a outra campesina - a água e a terra a pacificar um horizonte de esperança, a perder de vista, sinalizado pelo piano de cauda. Vem, depois, uma segunda leitura, alegórica, que o título sublinha e reenvia para a interpretação do género pictórico.
(in catálogo da exposição "Sustenidos")
Criador: Zé d'Almeida