O filho-da-puta é um comemorativista, um amante das datas que celebram as mortes, um militante da acumulação do regresso do passado como peso e inércia dramática e kitch, ele grita em surdina para si mesmo “viva a morte”, como o general de Franco, pois cultua as abstracções herói-maníacas, a megalomania e a grandiloquência, sendo admirador da tortura e do castigo, da sevícia. Sim, nele, tudo tem a ver com a morte, como refere Pimenta, com celebrar a morte mas também com flores de plástico. Esta peça é um grito gramaticalmente impecável, rigoroso, pela liberdade livre e contra o preconceito e o amiguismo hipócrita e nepótico que continua a constituir os modos da nossa sociabilidade sempre muito atravessadas de ambições de poder e poderes. “AQUI JAZ O BEM-AMADO… ONDE AS MINHOCAS O COMEM; FOI HOMEM DALGUM ESTADO MAS PERDEU ESTADO DE HOMEM.”
Texto: Alberto Pimenta
Direção: Fernando Mora Ramos [Encenação] e Miguel Azguime [Composição Musical]
Quarteto de Cordas Vocais: Cibele Maçãs, Fábio Costa, Marta Taveira e Nuno Machado
Galeria de retratos de FDP’s: José Serrão
Estátuda do FDP: Mariana Sampaio
Iluminação: António Anunciação e Lucas Keating
Cenografia e figurinos: Fernando Mora Ramos
Num armazém vazio de mercadoria, nada é mais legítimo do que pensar-se que o stock são os próprios empregados; neste caso, o Senhor Lino e o Nin. E, se os empregados são relegados à condição de mercadoria, estamos perante uma perversão evidente: sobre eles passa a imperar as leis de mercado em vez das leis laborais, criadas com o intuito de lhes assegurar a tal dignidade, entretanto abdicada em prol de uma soldada, supostamente atribuída em paga dos seus préstimos. Este texto, apesar de uma aparente singeleza, coloca-nos perante algumas questões essenciais, quer por sugestão, quer por identificação. Questões essas que versam fundamentalmente acerca da dignidade humana. Ficamos perante um impasse, que pode ao mesmo tempo ser de ordem puramente filosófica, como um pouco mais determinista e pragmática: Será mesmo que o trabalho dignifica o Homem? Se o livre arbítrio, como diz Deleuze, tem mais a ver com a capacidade de criar do que com questões ligadas à alma e a espiritualidade, ao Senhor Lino e ao Nin, a forma de se organizar socialmente deste tempo retirou-lhes essa possibilidade, o que nos inquieta enquanto criadores crentes numa arte que coloca questões em permanência no sentido de nos aproximar o mais perto possível da resposta às perguntas fundamentais: O que é um Homem? Ou então: o que é ser Homem? O texto põe em cena duas gerações distintas, duas conceções diametralmente opostas do mundo. Contudo, entre presente (Nin) e passado (Senhor Lino), há algo de comum: a certeza de que tudo será como sempre foi; que a seguir à luz segue a escuridão, ou vice-versa, tanto faz. Todo o espectáculo será balizado por uma lógica do vazio; porque é dentro dessa lógica que decorre toda acção da peça: um amplo espaço vazio; o logro de um ofício que não existe; a relação entre dois desconhecidos. A peça é também uma abordagem do tempo: o tempo de uma jornada; de uma vida; o tempo da incerteza; mas também o tempo do tempo que se gasta e se esgota impiedosamente.
Texto: David Desola
Tradução: Afonso Becerra e Diana Vasconcelos
Encenação: Flávio Hamilton
Interpretação: Pedro Carvalho e Jimmy Nunez
Iluminação e Sonoplastia: Eduardo Abdala
Espaço Cénico: Eduardo Abdala e Flávio Hamilton
Design Gráfico: André Rabaça
Operação de Luz: José Lopes
Operação Som: Flávio Hamilton
Direcção Artística do Teatro Art’Imagem: José Leitão
Produção: Sofia Leal e Daniela Pêgo
A Comparsa del Arcipreste chega comemorando a procissão da Virgem e a fertilidade da Terra. Anuncie os prazeres do Bom Amor e o bom humor necessários para as artes da sedução. Eles encenam a juventude inexperiente do Arcipreste apaixonado por cristãs, mouras e judias; os conselhos de Don Amor e Venus; as histórias de amantes preguiçosos, as de Pitas Payas; o amor de Don Melón e Dona Endrina; a astúcia de Trotaconventos; a luta entre Don Carnal e Dona Cuaresma. A Comparsa se despede comemorando a plenitude da freira Dona Garoza.
Texto e direção: Agustín Iglesias
Música original: Fernando Ortiz
Cenografia: Marcelino Santiago Kukas
Figurinos: Luisa Santos
Coreografia: Fernando Sanz Romualdo
Interpretação: Raúl Rodríguez, Magda Gª-Arenal, Jesús Peñas, Mercedes Lur e Asunción Sanz
Projeto de iluminação: Lucía Alvarado
Espaço Cénico: Jean Halbing
Gravação: EWWK
Técnico de luz e som: José Mª Mato
Design gráfico: Isabel Dublino
Comunicação: Toñi Escobero
Produção: TEATRO GUIRIGAI
Ondina vive junto às ondas do mar, onde elas rebentam e enchem de espuma a praia. Durante muitos e muitos anos, apenas a espuma banhava a areia da praia. E era aí que Ondina brincava com os seixos e com a espuma do mar. Mas novos objetos com sons, cores e formas extraordinárias surgiram na sua vida e Ondina gostava de brincar com eles. Pareciam uma nova espécie muito amigável e tão prestável que, devagarinho, se foram entranhando na sua vida. Quanto mais se entranhavam, mais ela precisava deles e sem dar por isso, o PLASTIKUS tornou-se absolutamente indispensável. E, assim cresceu, cresceu, cresceu na sua vida e Ondina rapidamente descobriu que ele estava por todo o lado! Por todo o lado mesmo!
Encenação: Clara Ribeiro
Interpretação: Carla Magalhães, Joana Vilar e Nuno J. Loureiro
Direção Plástica e Marionetas: Teatro e Marionetas de Mandrágora
Espaço cénico, Adereços e Figurinos: Grácia Cordeiro
Desenho de Luz: Rui Gonçalves
Desenho de Som: Manuel Brásio
Design: Ricardo Ferreira
Comunicação: Rubina Jassat
Produção: Krisálida
Engana-se quem pensa que uma andorinha não se pode apaixonar por um gato. Esta é a história que a Manhã ouviu do Vento e contou ao Tempo. Uma História de amor. Uma reflexão sobre um mundo de preconceitos, desigualdades, injustiças, incompreensão e pouco amor ou, pelo menos, ainda não o suficiente. Um mundo, enfim, que não presta. Até porque: "O mundo só vai prestar/ Para nele se viver/ No dia em que a gente ver/ Um gato maltês casar/ Com uma alegre andorinha/ Saindo os dois a voar/ O noivo e a sua noivinha/ Dom Gato e dona Andorinha".
Texto a partir de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá de Jorge Amado
Cocriação e Encenação: Tiago Fernandes
Cocriação e Interpretação: Ana Perfeito, Alexandre Calçada e Elisabete Pinto
Construção de Cenário e Adereços: Jorge Portela e José Esteves
Guarda Roupa: Teresa Soares
Apoio ao Guarda Roupa: Flávia Silva e Hugo Rodrigues (Estágio Curricular do Curso Profissional de Design de Moda ETAP Cerveira)
Voz-off: Maria Alcina Cruz
Desenho de Luz: Nuno Almeida
Seleção Musical: Tiago Fernandes
Produção: Adriel Filipe
Desenho Gráfico e Fotografia: Rui Carvalho
Alpindo e Boleta são dois amigos gaiteiros também pantomineiros. Para eles a vida é jardinagem e uma constante viagem. Gostam tanto de histórias e de viajar, que levam nas mochilas muito que contar. Falam tanto de reis da história de Portugal como de palavrinhas inventadas com sabor musical. Fazem germinar ideias como o rio dá lampreias. Um podia ser Florindo e a outra Borboleta mas, ei-los, meninas e meninos, Alpindo e Boleta, num teatrinho de canção que se chama Germinação.
Texto: Abel Neves
Encenação: Paulo Duarte
Cenografia, adereços e figurinos: Sandra Neves
Direção musical: Fernando Mota
Interpretação: Abel Duarte e Dóris Marcos
Assistência à cenografia e cenários: Carlos Cal e Maria da Conceição Almeida
Costureiras: Capuchinhas CRL e Maria do Carmo Félix
Direção de Produção e Comunicação: Paula Teixeira
Assistência à produção e comunicação: Marta de Baptista
Direção de cena: Abel Duarte
"El Licenciado Vidriera" é uma adaptação do texto de Cervantes inspirada nos novos conceitos de dramaturgia, mas respeitando a obra original e a linguagem de Cervantes. Funde o teatro textual e físico com o flamenco ao vivo, símbolo do grito de loucura do protagonista, e com um espaço sonoro que transforma composições musicais em verdadeiras referências com valor narrativo. Um conto pertencente às "novelas exemplares", escrita entre 1590 e 1612, mas que não foram reunidos até 1613 pelo próprio Cervantes, após o reconhecimento obtido pela primeira parte de D. Quixote. "Mr. Vidriera" é a nossa adaptação, a partir de um processo de investigação teatral contemporânea. Com uma aposta cenográfica carregada de poesia visual, há um trabalho conceptual dos objetos e um simbolismo em que os elementos adquirem significados diferentes, nos quais as criações em vídeo também têm destaque.
Texto: Miguel Cervantes
Direção e dramaturgia: Cristina D. Silveira
Adaptação e assistência: Pedro Luis López Bellot
Interpretação: Jorge Barrantes e Alberto Moreno
Cenografia e adereços: David Pérez e Diego Ramos
Figurinos: Myriam Cruz
Espaço Sonoro: Álvaro Rodríguez
Criação de vídeo: El Desván Teatro e Mara Nuñez
Iluminação: David Pérez
Numa sala muito cor-de-rosa, de uma casa muito escura, uma solitária mulher executa a rotineira tarefa “muito feminina” de passar a roupa a ferro. Ela passa, passa, passa… Subitamente, dá conta que no prédio defronte, num apartamento até então desabitado, se instalou uma nova inquilina. Tudo muda: deixa de estar só! Começa então entre elas uma conversa (na verdade, um solilóquio) na qual, sob múltiplos aspetos, se evidencia a relação homem/mulher, hoje como no passado, uma questão de antropofagia. Diz Unamuno que o homem não pode viver senão de fome. A mais viva expressão de amor é “Eu comia-te!” (...) Só que hoje já não comemos as carnes; comemos as almas! É desta matéria, na sua abrangência real e metafórica, que fala o espetáculo. Contribuir para uma reflexão bem disposta sobre a condição feminina, fazendo jus às palavras de Franca Rame: “Há dois mil anos que choramos. Vamos agora rir, rir de nós próprias".
Texto: Dario Fo e Franca Rame
Encenação: Luís Vicente
Cenografia e figurinos: Luís Mouro
Desenho de luz: Fernando Sena
Interpretação: Antónia Terrinha
Operação de luz: Hâmbar de Sousa
Operação de som: Fernando Sena
Voz-off: Luís Vicente, Nuno Geraldo e Roberto Jácome
Costureira: Amélia Cunha
Produção: Celina Gonçalves
Fotografia e Vídeo: Ovelha Eléctrica